Lanço-me sempre em indagações quando me vejo forçada a pensar nesta questão do Jornalismo Cidadão, Participativo, Colaborativo ou Open Source.
Como jornalista - ainda só de diploma académico e com a experiência de estágio curricular no Jornal Público e de colaboração durante dois anos no Jornal Universitário de Coimbra A Cabra, questiono-me frequentemente sobre a veiculação dos conteúdos produzidos por jornalistas cidadãos.
Hoje em dia qualquer um de nós tem um blogue, uma conta no twitter ou no Facebook, galeria no Flirck ou em outras plataformas online. Qualquer pessoa envia uma sms aquando de uma situação mais sui generis, mais caótica ou mediática, colocando na sua rede a instantânea realidade em que vivemos. Estamos na Aldeia Global, já assim o referia McLuhan, teórico do Meio e a Mensagem.
Contudo é irremediavelmente difícil dissociar a realidade noticiosa do seu público, a razão de ser de qualquer trabalho jornalístico. Agimos em conformidade com o tecido social e em detrimento do rigor e da verdade da informação. E somos veiculados pelos órgãos de comunicação social que integramos e pelo nome e trabalho que criamos com o rigor devido.
Desta forma, como é que descalçamos esta bota da certificação do Jornalismo Cidadão, Participativo, Colaborativo ou Open Source? Será que podemos só resumir esta acção à participação nos espaços de opinião, na partilha de fotos e escolha a serem abordados?
O dar a conhecer a nossa realidade, o que acontece no nosso bairro ou cidade já é uma acção de cidadania. É já uma partilha de informação se for tida em conta a força crescente das redes sociais e da blogosfera, espaços de intervenção individual mas que só ganham contexto na esfera comunitária.
Esta análise ao Jornalismo Cidadão, Participativo, Colaborativo ou Open Source assenta também em outra questão: a gestão dos conteúdos criados por jornalistas não profissionais. A prática jornalística certificada regula-se por um mecanismo instituído, pela reiteração no cruzamento de fontes e audição do contraditório, valores éticos e edição segundo um código deontológico.
Por isso, a meu ver, estes novos conteúdos criados e partilhados pelos novos actores da prática informativa estão desfasados de consciência profissional. Mesmo sendo face crítica e cooperante da construção da realidade em que vivemos, estão longe da certificação típica de um jornalista como o conhecemos.
Termino com o seguinte exemplo: uma pessoa que se desloque de bicicleta e que não tenha carta de condução, vê a sua mobilidade de forma distorcida, em relação às regras da estrada, apreendidas pela pessoa que tenha habilitação de condução. Não se apercebe da regra de cedência à direita e, por exemplo, do significado da vasta e diferente sinalização.
Agora coloquem o exemplo na análise ao tema do Jornalista Cidadão versus Jornalista Profissional. Fico à espera das vossas opiniões.
Deixas uma pergunta interessante no teu artigo, parece-me relativamente fácil responder.
ResponderEliminarO jornalista cidadão, nos seu blogues, nas suas cartas aos jornais, nos seus comentários, não tem de seguir nenhuma norma de direcção ou redacção de jornal, revista rádio ou televisão. Escreve o que quer e como quer, bem ou mal mas sem qualquer restrição, sem sequer pensar nisso, nem pensando se está a escrever para massas, escreve o que lhe parece melhor. Claro que também pode tentar enganar, opinar de forma displicente, inventar, alterar, enfim uma panóplia de hipóteses.
O profissional, terá de estar pressionado, pelo redactor, pelo director e pela deontologia. A sua comunicação pode ser informativa a sério, especulativa, aprofundada, passada pela rama, ter restrições de espaço e forma.
O jornalista cidadão, é um ser privilegiado, ao ponto de muitos jornalistas profissionais terem os seus blogues não identificados para poderem realizar aquilo que não podem nos jornais, uma situação caricata, quando se fala de liberdade de imprensa, mas qual liberdade?
As pressões políticas ou da grande finança e indústria, deixam muitos jornais sem ângulos para que os seus jornalistas possam opinar ou dar a conhecer.
Mesmo assim situações muito recentes, como a divulgação dos vencimentos e prémios dos administradores de grandes empresas, a maioria com capital do estado, são exemplos de que apesar de tudo se consegue trazer a público o escândalo que se vive neste país.
Chamo também a atenção para o contrato dos submarinos, onde por interesse do tão ofendido estado, por se falar de elementos do mesmo em diversas situações pouco limpas, venha agora, decerto pressionar a comunicação social a publicar em vez de pedir para que não saiam notícias.
É isto que este leigo, crítico musical, mas convivente com uma redacção de jornal, por onde já conheceu 4 directores, por uma secção onde já conheceu 3 editores e pela redacção de 3 revistas, sentiu e sente no ambiente da comunicação social e jornalismo actual.
As políticas, de cada orgão, são diferentes de casa para casa e não sei se os profissionais se sentem realizados, embora, como é evidente devam vestir a camisola de onde trabalham, sob pena duma tremenda frustação. Já vi alguém despedir-se em vez de colaborar com o estilo trazido por um director dum jornal, absolutamente destruidor da qualidade da secção que essa pessoa chefiava e que estava no joral há mais de 20 anos.
É isto Vanessa o que posso dizer, talvez erradamente, mas aqui sou o cidadão jornalista, sem receio de escrever o que sinto, sem qualquer restirção, a não ser a minha própria capacidade de comunicar.
António
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Olá Vanessa- Como vês procurei-te em espaços mais aprofundados.
ResponderEliminarSou um velho do Restelo. Jornalista com carteira que não chega à meia centena depois do milhar... Enfim, a experiência suficiente para me permitir largar algumas postas de pescada.
E a primeira é esta, redondidinha e em maiúsculas para que não restem dúvidas: O JORNALISMO CIDADÃO NÃO EXISTE.
Não me parece que aconteça contigo, mas se alguém ficou sem fôlego com a ousadia da afirmação anterior deixem-me que vos pergunte:
- O que distingue o jornalista do cidadão?
Ou melhor:
- O que distingue o jornalista da testemunha?
Vamos lá por partes: Aquele que tem os meios tecnológicos para gravar o acontecimento de que foi testemunha é, por isso - e apenas por isso - jornalista?
Não me parece. Estamos apenas perante uma testemunha cujos meios permitem divulgar o facto que presenciou. Apenas e tão somente isso.
O mito do jornalista cidadão não passa de uma estratégia de marketing delineada com o bum da comunicação digital destinada a criar um sentimento de pertença dos internautas em relação aos meios tradicionais.
O "jornalista-cidadão" (continuo a utilizar a expressão apenas por comodismo) tem efectiva importância no relatar de episódios de actualidade. Basta lembrar o sismo do Haiti para vermos o quanto lhes devemos na divulgação do que se passava.
Mas pergunto-me (e pergunto-vos): Os relatos divulgados (nesse e noutros casos) foram de jornalistas? Tinham o distanciamento?, a ponderação?, a reflexão?
Não tinham. Eram relatos de testemunhas. E essa é "a" diferença: Um jornalista-cidadão relata o que viu; um jornalista relata o que analisou...
Para que não haja dúvidas, o comentário anterior vai assinado por Jorge Montes
ResponderEliminarNão é Montes, é Montez (traições de um teclado que não é o nosso...) Montez, Jorge Montez
ResponderEliminarVanessa. Optei por colocar a minha contribuição para o assunto muito oportuno que lançou num post que acabo de colocar online.
ResponderEliminarhttp://jornalistasdesofa.blogspot.com/2010/04/ainda-o-jornalismo-cidadao-o-caos_05.html