sábado, 26 de janeiro de 2013

Privilégios, manifestantes e porcos

Esta tarde uma camioneta carregada de porcos que se dirigia para Norte despistou-se na A1, junto a Alverca, interrompendo o trânsito nos dois sentidos. Segundo um repórter da TSF, que foi apanhado no trânsito, ninguém mais passou, tendo a GNR cortado a circulação para recolher os animais e retirar o veículo destruído. Ninguém… exceto um autocarro com manifestantes, que se dirigia para Lisboa. Segundo o João Paulo Baltazar relatou no local, depois de se terem identificado com os cartazes do protesto, a polícia permitiu que passassem, a fim de chegarem a tempo à manifestação.

Defendo, sem reservas, o direito à manifestação. Mas, numa altura em que centenas de milhares de portugueses se veem com grande frequência impedidos de trabalhar e centenas de empresas impedidas de exportar em nome de direitos como os da manifestação ou da greve, não estaremos a dar aos manifestantes direitos a mais do que os que já têm e tantas vezes se sobrepõem aos de outros? Deixando-os passar para a “manif”, porque vão para a “manif”, e deixando na fila quem vai trabalhar ou simplesmente passar um justo fim-de-semana à aldeia com a família, não estaremos a – como é? – violar aquela coisa da “equidade” que se reclama… olha, nas manifestações e nas greves?

Sempre ouvi dizer que os meus direitos terminam onde começam os dos outros. E concordo, por mais que isso, muitas vezes, seja difícil de aplicar. Mas numa altura em que os direitos – mesmo os adquiridos – de quem trabalha e quer trabalhar são constantemente postos em causa e numa altura em que os privilégios, de quem ainda os tem, são – e muitas vezes bem – questionados, não me será legítimo perguntar à GNR que lei e critério aplicou naquela situação? Não estaremos, um dia destes, a viver num Estado onde os direitos de alguns poderão começar a ser confundidos com a apologia de uma certa anarquia?

Resta-me esperar que os leitões em fuga tenham sido capturados com jeitinho e cheguem à bairrada ainda a tempo de servir o jantar aos manifestantes no seu regresso ao Norte. Porque comer um bom leitão na Mealhada é direito adquirido que neste país não deve ser negado a ninguém. Mesmo aqueles que, com toda a legitimidade, reclamam contra a “miséria”.

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