sexta-feira, 25 de maio de 2012

Pressões, jornalistas e a indiscrição de Fernanda Câncio...

Há uns anos eu fui muito pressionado pela jornalista Fernanda Câncio. A senhora atacava ferozmente nas redes sociais todos aqueles que – como eu – achavam que as políticas de José Sócrates eram desastrosas e nos poderiam levar à bancarrota. Infelizmente tinha eu mais razão do que Fernanda Câncio, nessa matéria. Mas fui pressionado. Quanto a Fernanda Câncio, também ela se sentiu pressionada. Não por mim, mas sobretudo por aqueles que achavam que a jornalista se deveria abster de trabalhar em determinadas matérias por ser alegadamente a namorada do Primeiro-Ministro. O próprio Primeiro-Ministro terá sido pressionado sobre o assunto. A ERC acabou pressionada por várias queixas sobre o tema e a jornalista acabou pressionada pela ERC, que pareceu concordar com os que pressionavam tanto Câncio como Sócrates. Neste jogo de pressões que é a vida – e mais, que é a vida pública (e a vida pública é também pública para os jornalistas que são eles próprios figuras públicas) –, restou, no final, uma razão a Fernanda Câncio: a vida de cada um é de cada um e, a menos que isso possa interferir com a vida de todos os outros. Sendo isto verdade e tão defendido por Câncio, só não entendo muito bem por que razão foi agora a própria Fernanda Câncio a revelar um aspeto da vida privada de uma jornalista para explicar que esta estava mesmo a ser pressionada por um ministro. A não ser que a afirmação de Câncio já não seja apenas um ato de simples indiscrição pública e violação da privacidade de uma colega e de um ministro, mas antes um ato consertado de relações públicas, procurando antecipar uma explicação que afaste eventuais especulações sobre a matéria ou mesmo a curiosidade investigativa de alguém (quem sabe de outros colegas – “camaradas”, como se diz no jornalismo). A ser isso, estaremos então perante técnicas de comunicação dignas da melhor escola de José Sócrates. E essa escola não é nem em Paris nem tem exames ao domingo: é a escola da guerrilha política e do controlo da comunicação social em que o ex-Primeiro-Ministro foi tão exímio.


«Que ameaça, exatamente, de revelação da vida privada da jornalista é que ele teria feito? Aquilo que me chegou é que se trata de uma referência a uma relação íntima da jornalista, relação essa com alguém que o ministro associa à oposição».


Fernanda Câncio em entrevista a João Maia Abreu, 25.ª Hora, TVI, 23-3-2012 


Sem comentários:

Enviar um comentário