segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O que não consigo explicar ao meu bebé sobre Portugal

Portugal é um país muito avançado. Tão avançado, que o meu filho que dentro de dias fará um ano, é obrigado a ter número de contribuinte.
Quando nasceu, Portugal já era um país moderno. Mas não tanto. Recordo-me que pouco antes de vir ao Mundo, o Ministro da Presidência tinha anunciado com grande pompa e circunstância “a medida que assinala os 100 dias de Governo”. A medida era o “cheque bebe”. 200 euros que o pequenote receberia apenas quando fizesse 18 anos. Era uma “medida de estímulo à natalidade” e também “à poupança”.
Mas de onde vinha tão brilhante ideia? Do Primeiro-Ministro, claro, que uns meses antes (estaria o meu filho a ser concebido, talvez) subiu ao púlpito do Congresso do PS para anunciar tão importante promessa eleitoral. Se fosse reeleito, Sócrates daria 200 euros aos bebés que desde então nascessem.
Apesar de ter nascido depois de tudo isso (da promessa e da aprovação em Conselho de Ministros), nunca chegou ao seu berço de maternidade qualquer cheque ou certificado. Pedimos então, através de e-mail, ao Conselho de Ministros que nos dissesse onde paravam os 200 euros. O e-mail, viajou de Ministério em Ministério; de Secretaria de Estado em Secretaria de Estado, até regressar ao Conselho de Ministros (ver aqui troca de e-mails). Aparentemente, ninguém sabia no Governo quem tratava de tal assunto. Até que a resposta, depois de muita insistência, chegou. Haveria “cheque bebé”, mas apenas para os bebes que nascessem lá para o fim do ano… (ver post que então escrevi sobre o assunto).
O fim do ano chegou, o ano novo trouxe novos bebés. O Governo não mudou. José Sócrates ainda sobe aos púlpitos do PS e o Ministro da Presidência ainda anuncia medidas no final das reuniões do Conselho de Ministros.
Quanto ao meu bebé, em menos de um ano de vida, já percebeu que os 200 euros anunciados pelo Ministro de Estado quando nasceu eram mentira. E também já percebeu que o mesmo Primeiro-Ministro que fez a promessa (entretanto) lhe retirou também o abono de família que recebia quando nasceu. O abono e o subsídio de aleitamento.
Não sei se um dia lhe conseguirei explicar tudo isto ou se – envergonhado pela nacionalidade que lhe impus – lho vou omitir. E nem sequer sei como irá a História da Humanidade explicar nos seus futuros manuais escolares, porque razão o povo egípcio lutou na rua contra um tirano e, no mesmo momento, em Portugal se destruia o Estado Social mas se discutia futebol.

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