sexta-feira, 23 de abril de 2010

Um pouco estranho

Há dias ouvi Emídio Rangel numa comissão parlamentar referir-se às agências de comunicação como se delas viesse todo o mal do Mundo, nomeadamente, o mal que incomoda o mundo do Governo e de José Sócrates, coitadinho (palavra minha), tão atacado por essa infame actividade.
Rangel lançou sobre as agências de comunicação a acusação de “plantarem notícias” e urdirem estratégias de assassinatos de carácter.
Ontem, também no Parlamento, mas em pleno hemiciclo, Fernando Negrão acusou os corruptos e arguidos (presumo que de área política diferente daquela a que se referia Rangel) de “até já terem assessores de imprensa”.
É um pouco estranho que as principais agências de comunicação, nomeadamente aquelas que têm prestado serviços ao PS, ao Governo e também das que o fazem ao PSD (nalguns casos, as mesmas) não se insurjam perante tão ferozes ataques. E é também estranho que as organizações que representam o sector não manifestem, também, a sua indignação quando, sobre todas as agências e, no fundo, também sobre jornalistas, é lançado um anátema que nem sempre lhes encaixa.
Como é estranho que numa altura em que tanto se discute a liberdade de imprensa e de expressão, ninguém peça em sede de comissão de ética a Emídio Rangel que explique quais são essas agências e, já agora, que espécie de jornais e jornalistas aceitam a “plantação de notícias” e… a troco de quê o fazem. E que, por uma vez, sejam pedidos casos concretos e nomes (de assessores e jornalistas) que praticam tais actos.
É que, de outra forma, a “infâmia” de que se queixa o PS - e em uníssono Emídio Rangel - está a ser combatida com outra infâmia, por ventura, ainda mais vaga e injusta.
Quanto a Fernando Negrão talvez fosse melhor fazer-lhe perceber que o problema da Justiça não é a capacidade de comunicação ou de defesa dos arguidos, mas a incapacidade da Justiça para acusar e condenar. E, já agora, a absoluta e histórica inabilidade que o sistema judicial português tem para comunicar. Problema que, talvez, uma boa agência de comunicação pudesse ajudar a resolver com grandes vantagens para a credibilização da Justiça e, logo, com grandes vantagens para o País.

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