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quinta-feira, 1 de abril de 2010
Um jantar com Ana Paula Vitorino, o TGV e os amigos dela e dele
Há mais de 10 anos fiz a minha primeira viagem no AVE, o comboio espanhol de alta-velocidade – o TGV espanhol, se quisermos. Fiquei encantado com o percurso de pouco mais de duas horas entre Madrid e Sevilha, cuja linha tem muito mais do que 500 km. Mas logo percebi, como qualquer mortal de boa fé reconhecerá, que aquele magnífico comboio não fazia nenhum sentido no nosso pequenino Portugal, onde as duas principais cidades estão separadas por apenas 300 km. Muitos anos depois, acordei para o pesadelo que tem constituído a construção do TGV português. Chamo-lhe pesadelo porque sempre tive noção que, passados mais de 12 anos, Portugal não apenas continuava a ser pequenino como tinha mesmo encolhido. Foi por isso com grande cepticismo que em meados do ano passado aceitei um convite para um jantar-debate na Casa da Música, no Porto, onde, entre outros ilustres, estava a Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino. Devo dizer que entrei contra o TGV em Portugal e saí com grandes dúvidas acerca da minha opinião, já com mais de 12 anos. O que me fez reconhecer o interesse do projecto, e mesmo acreditar que fosse qual fosse o Governo que saísse das eleições de Outubro, lançaria o projecto conta-se em poucas palavras. Ana Paula Vitorino e alguns outros ilustres oradores, explicaram-me bem. Além disso, comigo tinha ido um administrador de uma grande empresa multinacional de transportes, para mim insuspeito, que corroborou a teoria exposta. E a teoria do Governo de então – e que hoje continuo a aceitar – é que a actual linha Porto-Lisboa se encontra saturada. Basicamente, não se consegue meter numa mesma linha comboios regionais e inter-urbanos com regularidade, mercadorias e velocidade elevada (como a do Pendular) ao mesmo tempo e satisfazer a procura existente. Simplificando a questão técnica que percebi – fiquei a saber o que são “slots” – os comboios não se ultrapassam. Estando saturada, a linha Porto-Lisboa precisa de uma alternativa ferroviária e, a ser construída, que seja de alta-velocidade, pois o acréscimo de custos que terá, pode até ser compensado pelos fundos comunitários. Ora, estando feita a linha Lisboa-Porto, não faria sentido ficar por ali. A Norte, deveria ser estendida a Vigo, e a Sul deveria fazer-se a ligação “estratégica” a Madrid. Ou seja, se bem entendi e aceitei a ideia do Governo, o TGV apenas se faria para resolver um problema grave do transporte de passageiros e, sobretudo, mercadorias, entre Lisboa e Porto e que, sendo assim, se cumpririam depois objectivos políticos e estratégicos de ligação a Espanha “ainda que financeiramente inviáveis”, mas que no quadro da linha Lisboa-Porto poderiam fazer sentido. Ora, menos de um ano depois, o PEC – esse instrumento que agora serve para se substituir ao criador e dele retirar ónus e custos políticos – diz-nos que, afinal, não se faz a linha Lisboa-Porto e muito menos a linha Porto-Vigo… mas o concurso da linha Lisboa-Madrid já avançou… E eu, que durante 12 anos fui contra o TGV em Portugal mas depois vivi alguns meses em paz com a decisão de derreter milhões no projecto, vejo-me agora triste e cabisbaixo por me aperceber que, de facto, ao fim de mais de 40 anos, ainda continuo, às vezes, a acreditar na história da Carochinha. Mas, pergunto-me: em quem acreditarão hoje os tantos fervorosos socialistas nortenhos que, naquela sala, aplaudiram ruidosamente Ana Paula Vitorino e hoje permanecem em silêncio sobre este assunto?
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TGV
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