quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Temos bispos à altura dos desafios do País?

D. Manuel Martins veio recentemente dizer numa entrevista que Portugal não tem governantes à altura da situação. Diz ainda que deveria haver uma espécie de “junta” com especialistas, pessoas independentes e credíveis, que avaliassem os políticos antes de tomarem posse e dissessem se estariam ou não capazes para os desafios. O País leu e ouviu e poucos ou nenhuns foram os comentadores que se atreveram a comentar. A verdade é que o que o Bispo de Setúbal disse – com todas as responsabilidades que possui na Igreja Católica Portuguesa e visibilidade mediática que isso lhe confere – foi um dos mais violentos e significativos ataques à democracia portuguesa desde o 25 de Abril de 1974 e até talvez antes disso. Ai do político que o dissesse, mesmo querendo ser irónico como fez Manuela Ferreira Leite. Na verdade, o que o Bispo advoga é que o povo português não sabe escolher e, portanto, deveria ser uma espécie de “Comité Central” da ex-URSS a escolher, substituindo-se ao voto que a democracia consagrou. Claro que na Igreja é assim, como no comunismo. Lá, no Estado do Vaticano onde os Papas são eleitos, não é o povo que sustenta com o seu dinheiro o sistema que dá às cúpulas (elites, se quisermos) palácios revestidos a ouro, quem escolhe. São as elites que, entre si e no recato das suas salas douradas, escolhem o que entendem ser mais adequado e competente. E depois o comunicam por sinais de fumo. D. Manuel Martins pode achar que Passos Coelho não é capaz de ser Primeiro-Ministro nem competente para governar um país em crise. E pode também achar que deveriam ser as elites da Igreja Católica a escolher os nossos governantes. Pode também achar que o vencedor deveria ser anunciado através de uma chaminé. Mas, infelizmente para ele, Portugal não é o estado ditatorial do Vaticano. Em Portugal, D. Manuel Martins terá que se contentar em continuar a ter opinião livre – mesmo que a sua opinião advogue contra a democracia – e, se quiser, a votar. Sendo certo que o seu voto valerá sempre e só tanto como o meu. Quanto à opinião dele, essa valerá para os jornais mais do que a minha. Contudo, mesmo limitada ao Facebook, a minha opinião também é livre e, logo, posso sempre advogar que não temos bispos à altura dos desafios sociais e morais que o País enfrenta.

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