sexta-feira, 6 de abril de 2012

Liberdade religiosa vs Jornalista faccioso

Não sou religioso, mas sou pela liberdade religiosa. Liberdade religiosa significa não apenas cada um viver livremente os seus rituais religiosos e ser, por isso, respeitado, mas também poder não fazê-lo, se não quiser. Liberdade religiosa é poder exercer a sua religião, mesmo que esta seja minoritária, sem reservas. Vem isto a propósito de em Cuba, Raúl Castro ter permitido pela primeira vez que os cerca de 10% de católicos pudessem comemorar livremente a sexta-feira santa.
Aquilo que é um bom exemplo de abertura democrática e de liberdade religiosa por parte do regime comunista de Cuba foi, contudo, alvo de um comentário lamentável que há pouco ouvi na TSF. Já um dia escrevi que não entendo por que razão os órgãos de informação portugueses entregam a reportagem e o comentário sobre assuntos religiosos (confundindo reportagem e comentário) quase invariavelmente e pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à igreja Católica ou mesmo a padres ou ex-padres Católicos. Isso não acontece em mais nenhuma área da vida portuguesa, onde não seria aceitável ter como único repórter de futebol um benfiquista confesso ou um atual dirigente portista, por exemplo. Como não aceitaríamos que um destacado membro do PC fosse o repórter parlamentar da SIC e, sistematicamente, conduzisse o seu trabalho segundo a doutrina comunista.
Mas é o que acontece e estações de TV, jornais e rádios, como a TSF, em relação à religião, onde o mesmo jornalista/comentador/religioso/católico é quase sempre a única fonte da estação e onde se constitui - misturando tudo - repórter/opinador/editor, não se coibindo de oferecer lições de moral católica em antena, sempre que pode.
Manuel Vilas Boas, para nos dizer hoje na TSF que o regime cubano permitiu aos 10% de católicos cubanos comemorar a sexta-feira santa, elogiando Raúl Castro por isso, não resistiu a afirmar qualquer coisa do género: “enquanto em Cuba se permite aos católicos comemorarem a Páscoa, em Portugal os comerciantes da Páscoa desrespeitam o dia”, procurando lançar o odioso sobre os hereges (termos meu) dos comerciantes. Faltou-lhe preconizar que ardessem na fogueira.
Ou seja, para o jornalista da TSF, aliás padre, aliás, comentador, aliás analista, aliás editor, a liberdade é apenas e só quando se exerce a favor da Igreja Católica em regimes comunistas. A liberdade de não comemorar, não existe, em regimes livres, como o nosso. A defesa da liberdade religiosa deste Manuel Vilas Boas não vai, por outro lado, ao ponto de se lembrar das minorias religiosas que existem no seu País e que, apesar da Constituição, continuam a ser ignoradas na prática, por patrões, pelo Estado e, sobretudo, pela Comunicação Social, e nomeadamente pela rádio onde trabalha.

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