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domingo, 29 de maio de 2011
Uma questão de convicções
Nos últimos dias, houve quem tentasse fazer passar a ideia de que Passos Coelho muda de convicções com facilidade, procurando um ataque de caráter que não lhe encaixa, definitivamente. A verdade é que não se muda de convicção apenas porque José Sócrates disse que se mudou, muda-se porque efetivamente se muda. Eu, por exemplo, que nunca votei em José Sócrates ou no PS, estive convencido um ano ou dois, apesar de tudo, que ele era um homem determinado e convicto. Contudo, Sócrates é apenas um molusco que se estende à medida da rocha onde se agarra ou da vítima que pretende aniquilar. Confesso, confundi a sua força com a existência de uma coluna dorsal que, afinal, é inexistente.
Mudar de convicções é, portanto, algo que nos acontece na vida, que não é desejável, mas que ainda assim é melhor do que simplesmente não tê-las. O mais dramático desta campanha eleitoral, contudo, não tem a ver com as convicções nem de Passos Coelho nem de José Sócrates. Passos Coelho será Primeiro-Ministro e se é legítimo duvidar-se – como é sempre o é – das suas capacidades, não me parece lógico colocar em causa as suas convicções, apenas porque admitiu que uma lei pudesse ser alterada.
O que realmente me preocupa, é o que 97% dos socialistas – sobretudo dirigentes – que ainda muito recentemente demonstrou com baba e ranho a sua profunda convicção de que apenas Sócrates podia governar Portugal, vai fazer no dia 5 de Junho com as suas convicções. Onde Vitorino, António Costa, Lacão e Vieira da Silva meterão tamanha convicção quando a ditadura do povo (a democracia) correr no dia 5 explicitamente com o Engenheiro Sócrates daqui para fora? O que farão com as convicções quando tiverem que, quais moluscos moldados à imagem do ex-chefe, readaptar-se à nova realidade?
Algo me diz que a convicção tão emotivamente demostrada no último congresso, se transformará em dedo acusatório muito rapidamente, na busca de tornar Sócrates no único e grande culpado da derrota, da desgraça e de todas as crises e, sobretudo, na busca de um lugar e de uma oportunidade dentro de um partido que já foi um dos bastiões da democracia portuguesa e que, hoje, é apenas um destroço.
É dentro do PS que essa ginástica de convicções será mais evidente. Acontece que vai demorar muitos anos para que nos esqueçamos que Sócrates não destruiu o país sozinho, em nome de obras faraónicas, em nome de um estado social que faliu e em nome de uma ideologia plástica que apenas serviu para que um grupo de incompetentes levasse Portugal à bancarrota. Ou seja, vai levar muito tempo até desfazermos a convicção de que o PS nos hipotecou o futuro e, se deixarmos, voltará a fazê-lo.
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