Criou-se a ideia, nos últimos dias, que o importante agora é tentar arranjar soluções para o país e que não interessa encontrar culpados. O princípio poderia ser aceitável, não fosse o caso de termos como candidato a Primeiro-Ministro o actual Primeiro-Ministro. Este gráfico deveria estar presente na parede do escritório de todos os empresários e na sala de jantar de todos os portugueses. Ele representa a dívida pública portuguesa, em percentagem do PIB. Ou seja, a curva representa o quanto nós estamos a viver acima das nossas possibilidades e representa também, de uma forma directa, física e gráfica, a irresponsabilidade populista de quem nos governa. Se repararmos bem, a nossa dívida pública esteve acima dos 60% do PIB antes dos anos 30, atingindo o pico da insustentabilidade em 1893, próxima dos 90%. Depois, foi baixando até cerca dos 15%, em 1975. Os anos que se seguiram à revolução foram de grande consumismo e mudança de paradigma, levando a dívida a subir de forma exponencial até meados dos anos 80. Em 2005, Portugal ainda apresentava valores de dívida pública inferiores a 60% do PIB, ou seja, no mesmo nível de 1930. Contudo, em 2005 Sócrates tomou posse como Primeiro-Ministro e a curva voltou a ultrapassar os 60%, galopando em seis anos de governação para os 97%, atingidos em 2010. O recorde em endividamento de 88% do PIB que tinha sido batido em 1893 foi ultrapassado em 2008 e em apenas 3 anos (2007 a 2010) registou subidas apenas comparáveis em cinco anos entre 1980 e 1985 e em sete, entre 1863 e 1870. Sim, estamos a falar do Século XIX. É preciso esclarecer que a escalada da dívida pública no final do Século XIX levou Portugal a ter que pedir uma renegociação da dívida, com perdão de parte da mesma e a consequente humilhação e descrédito internacional. Mais de um século depois, Portugal ultrapassou, com Sócrates, em poucos anos, o limite razoável dos 60% do PIB, estourou o recorde de 88% que tinha mais de 100 anos e estabeleceu novos limites (97%, em 2010, soube-se agora). Isto significa, que se o país inteiro (empresas e pessoas) durante um ano inteiro entregasse aos credores tudo o que produz, abdicando de saúde, ensino, de comer, de luz eléctrica, de água e de tudo o resto, talvez conseguisse pagar o que deve. Contudo, isso será uma impossibilidade por dois motivos: primeiro porque morreríamos todos e depois porque isso provocaria um arrefecimento da economia e, logo, não conseguiríamos produzir riqueza para entregar aos credores. Facilmente se percebe que chegámos ao ponto da insustentabilidade.
Quando ouvimos dizer, todas as semanas, com enorme satisfação, que o Estado conseguiu colocar mais 1,5 mil milhões ao juro de 7, 8 ou 9% nos mercados internacionais, estamos a ver este gráfico subir, a pique, em direcção ao céu. E estamos a tornar a equação cada vez mais complicada, porque se imaginarmos que em 1974 a nossa dívida pouco ultrapassava os 10%, começamos agora a aproximar-nos do absurdo de termos que pagar isso, já nem em dívida, mas apenas em juros (a dívida continuaria lá).
A quem conseguir, perante esta evidência, explicar-me o que é que isto tem a ver com os acontecimentos dos últimos 15 dias, da crise política e do chumbo do PEC, eu dou um doce. A quem conseguir explicar-me como vamos sair deste imbróglio criado pelo senhor Sócrates com as suas Auto-Estradas, comboios, TGV’s e Aeroportos eu dou dois e a quem me voltar a dizer que não é preciso procurar apontar culpados para o Estado a que chegámos, eu chamarei estúpido. E pergunto, a culpa é dos mercados, que agora nos sobem os juros e não querem emprestar? Ou será das agências de rating, que conhecem este gráfico? Ou... será nossa, porque elegemos um irresponsável para Primeiro-Ministro?
NOTA: se tivermos em conta as mais recentes previsões hoje reveladas de que o crescimento económico será negativo em 1,8% em 2011, devido fundamentalmente à política recessiva que tem sido implementada, esta curva agravar-se-á de forma ainda mais acentuada no próximo ano, ultrapassando claramente os 100%, não apenas porque a dívida subirá mas também porque o PIB baixará. Pergunto: não precisamos de ajuda?
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