domingo, 30 de maio de 2010

O paradigma do turismo (perdido)

Portugal tem vivido alguns históricos equívocos. Um deles, talvez o mais grave, é que somos um país de turismo. O paradigma de que o nosso “filão” está no turismo – qual jazida de petróleo em franca exploração – fez-nos acreditar em tretas muito pouco consistentes como “temos jeito” para o turismo, “somos hospitaleiros” ou “sabemos receber”. Claro que não sabemos receber. E claro que temos graves problemas para nos tornarmos num país de turismo. Antes de mais, porque não sabemos receber coisa nenhuma. As situações que vivemos em unidades hoteleiras, restaurantes, cafés ou lojas demonstram-no!
Mas há mais. Somos um país muito pouco competitivo do ponto de vista económico. O nosso turismo é francamente caro, quando comparado com o turismo de destinos concorrentes, como praias do Sul de Espanha ou da Croácia, só que estamos mais londe. Viajando pelas principais cidades europeias, vemos e sentimos nas ruas milhares de turistas que, em Portugal, rareiam. E vemos cidades cheias de diverção e actrativos que cá não existem. Poderia continuar a falar de qualificação e dos crimes urbanísticos cometidos no Algarve, que hoje hipotecam boa parte do potencial de turismo de qualidade, capaz de gerar mais-valia, que não chegamos a explorar. Mas nem sequer vou por aí. Fico-me com um exemplo da tristeza que hoje constitui a nossa forma de estar perante a coisa turística. Em Vila Nova de Gaia, Câmara Municipal, o Governo e até a União Europeia têm investido bastante (e bem) na qualificação das praias e da margem do Douro. Mas vejam. Onde ainda há poucos anos foi construído um grande equipamento designado “Cais de Gaia” – um espécie de “docas” à moda do Norte, para quem não conhece – a vista das explanadas, dos restaurantes e do passeio pedonal tem o resultado que as fotos mostram. Em lugar de vermos a paisagem única que constitui a Ribeira do Porto, as pontes, a Foz do Douro e a luz que dele emana, esbarramos com dois muros: um muro constituído por autocarros, outro muro constituído por barcos. Autocarros e barcos vazios, num sábado à tarde de Primavera. Como vazias estavam as esplanadas. Pudera!

... e do outro lado está a paisagem!

Sem comentários:

Enviar um comentário