A palavra rede é de personalidade dupla, um pouco como muitos dos utilizadores da internet. A rede de pesca nada tem a ver com a rede da wave partilhada pelos milhares de pessoas que usufruem da web 2.0, a internet caracterizada por ser mais dinâmica e social. Estar na dita rede pode parecer fácil: basta aceder à internet, criar uma conta no aplicativo que permita interagir com outros cibernautas, publicar textos e fotos e ver outros conteúdos. E, depois de dois parágrafos metafóricos vou começar por explicar porque me meti pela alegoria crítica dos vícios humanos e redes de peixe, se no fundo quero é falar de redes sociais.
Pois então, redes sociais lembram-nos fios emaranhados, ligações entrelaçadas entre utilizadores de plataformas online e, sem querermos mesmo, volta à lembrança a rede de pesca. Ora bolas, e os peixes? Onde afinal encaixo os peixes neste discurso todo? Que tal encaixá-los nos cerca de 1700 seguidores que tenho actualmente no twitter? E nos 14.830 tweets enviados e trocadores entre mim e a minha comunidade do pássaro azul? Todos estes números fazem parte da minha vida desde há um ano e meio atrás, altura em que passei a ser mais conhecida por @vanessaquiterio do que pelo nome que consta no BI, igual ao nick mas sem a inevitável “arroba”.
Alimentar uma rede tem muito que se lhe diga. É quase como dar de comer a um recém-nascido, que necessita de acompanhamento diário, dedicação e algum carinho. O dar tempo para a criação de relações, tanto profissionais como de simples “fazer amigos” é tarefa árdua, bem como dar conta à irremediável estratégia que se tem de ter para estar e saber estar online.
O actual problema das redes sociais e do que delas advém é mesmo a eterna questão da finalidade. Para além de sermos bombardeados constantemente com as inúmeras “britney sucks” (imagens desfocadas de ‘bots’ que pretendem ser nossos seguidores na plataforma dos 140 caracteres), chegam-nos diariamente os pedidos de amizade de personagens que deixam de dar “notícias” de um momento para o outro ou que não passam do “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” rotineiro. Afinal, tenho uma rede de contactos para criar informação, trocar ideias e partilhar links ou para coscuvilhar à janela, neste caso, de um ecrã de computador? Muitos de nós – utilizadores inevitáveis destas plataformas e da web dinâmica e social – nem nos apercebemos do quão pouco espertos somos ao não aproveitamos o “admirável mundo novo” das redes sociais.
Se deixarmos de lados as “britney sucks” e os “bons dias”, e apostarmos na construção de uma marca nossa, como a venda daquilo que somos ou gostamos, decerto que o tempo que perdemos online pouco ou nada se reflectirá no tempo que estamos offline.
Agora até podia dissertar sobre a imagem do Padre António Vieira e abordar a parte dos vícios humanos, que nos levava à questão dos “amigos” e “desamiganços” (termo traduzido do vocábulo britânico ‘unfriend’ e introduzido, em Novembro deste ano, no New Oxford American Dictionary) tão propícios do poder de um simples click. Mas nem vou entrar por ai. Concluo-o que muito mais que falar de redes e de cardumes racionais e interactivos, as redes sociais são plataformas dinamizadoras de maior conhecimento e bons instrumentos para vendermos, agora sim, o “nosso peixe”.
Vejam bem, se não fosse o pássaro azul e os meus tweets frenéticos sobre jornalismo, jazz e afins, neste momento não seria a Vanessa Quitério que sou hoje (apesar de ser mais a @vanessaquiterio), com trabalho feito e demonstrado através de blogues e plataformas colaborativas, que escreve artigos de opinião para trabalhos académicos de colegas. Pensem nisso, não na questão de mediatismo, mas de serem diferença no meio de tanta igualdade. A rede dá-nos esta oportunidade, pesquem-na!
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