Há fenómenos da comunicação que nos devem fazer refletir. Há
uns anos, quando o Ministério da Educação – e bem – regressou a uma lógica de
exames nacionais, choveram críticas. Dizia-se que o trabalho dos alunos seria
resumido a duas horas e que se violava o princípio da avaliação contínua. Na
comunicação social, não víamos quase ninguém a defender os exames. Hoje, a
mesma comunicação social classifica, sem pudor, as escolas em rankings pelos
resultados dos exames – sem mais. Os jornais chamam às manchetes o assunto e as
televisões fazem reportagens sobre “as melhores e as piores escolas do país”.
Ainda há pouco vi uma
reportagem na TVI sobre “A melhor escola do país”, dito e
escrito assim em oráculo. Nem sequer duvido que o Colégio do Rosário, no Porto,
seja o melhor do país, mas confunde-me que um jornalista, um editor, uma
direção de uma televisão, sem crítica e sem espírito crítico, aceite cair em
tamanha simplificação de critérios e que o Ministério da Educação não tenha
nada a dizer sobre o assunto. O que será um bom estabelecimento de ensino?
Aquele que ajuda a recuperar alunos de 4 para 10 e torna os “condenados” do
sistema em alunos com aproveitamento mínimo, ou aquele que pré-seleciona os
seus alunos, apertando o crivo da admissão e, quando algum falha, o manda
embora, não chegando a sujeitá-lo a exame? Não sei se isso acontece no Colégio
do Rosário, mas acontece em muitos outros muito bem classificados no mesmo
ranking, tornando a comparação entre eles, pela simples classificação média dos
exames, um indicador, mas não mais do que isso. Como pode uma escola pública, a
quem não é permitido rejeitar alunos ou obriga-los a explicações extra e fora
da escola e mesmo sugerir a sua saída a meio do ano, concorrer num mesmo
ranking de resultado de exame com as escolas privadas? A injustiça desta
classificação, que deveria ser apenas um indicador e nunca servir como base
para se poder dizer que “esta escola é melhor do que a outra”, está em todos os
jornais e em todos os ecrãs de TV. E é apenas um exemplo da forma ligeira e
irresponsável como a comunicação social hoje cai em chavões de comunicação tão
primários que apenas são possíveis porque o espírito crítico dos jornalistas e
dos seus diretores parece hoje esgotado numas quantas lutas de classe e
interesses pessoais. O mais curioso é que leio e oiço muitos jornalistas
diabolizarem os “spins”, como hoje se apelidam. O que não os vejo é fugirem aos
seus mais descalços “soundbites” e às mais suas primárias rasteiras.
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