A esquerda anda sempre às costas com chavões como “tolerância”,
“fraternidade”, “diversidade”, “democracia” e “direito à diferença”. Já nem
interessa recordar o que a História nos deixou sobre o assunto. Nem o que o
presente ainda nos ensina de paragens mais ou menos distantes, como a América
do Sul ou o oriente. Há sempre uma forma da esquerda que por cá anda afirmar
que a de cá não seria bem igual a essas esquerdas, ditas “democráticas” que
ainda governam de forma mais ou menos ditatoriais algumas potências regionais e
até mundiais. A esquerda de cá, a que gosta de caviar e a outra mais tradicional,
seria diferente, dizem. Mas não é diferente. A única diferença é, de facto,
nunca ter chegado ao poder. Vem isto a propósito da tourada em Viana do
Castelo. Eu, que nunca vi uma tourada, que não quero ver uma tourada e que não
gosto que maltratem animais, considero inaceitável que gente dita “tolerante”, “fraterna”,
amiga da diversidade e do direito à diferença tenha ameaçado fisicamente
pessoas que, com direito legal, legítimo e democrático, assistiam a uma
tourada. Não fosse costume ser assim (foi assim com o aborto e é sempre assim
quando estão em causa as ditas “fraturantes”) e quase nos esqueceríamos que os
militantes de partidos como o BE ou o PCP nem sequer têm o direito mais elementar
das democracias: censurar, escolher, criticar e – ora bem – votar! A sociedade
de consumo, o capitalismo, o liberalismo e, pois, o neoliberalismo (seja lá o que
isso for), podem ter muitos defeitos e até serem conjunturalmente alvos fáceis,
mas pelo menos não obrigam uns a pensar pela cabeça dos outros perante a ameaça
de porrada.
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