Acho que todos os anos escrevo sobre isto algures. Este ano
volto a lembrar que o principal flagelo do país (a catástrofe anual e certa dos
incêndios florestais) continua a ser combatida por amadores, que roubam às suas
vidas e profissões, alguns dias por ano para ajudar o bem comum. Sem lhes
retirar mérito, a verdade é que o sistema está errado. Se há serviço que
deveria ser profissional era o do combate e prevenção aos incêndios.
Infelizmente, todos os anos assistimos a dez meses de gastos sumptuosos e
desnecessários com corporações muitas vezes viciadas em estranhos esquemas onde
entra de tudo (sobretudo o pequeno poder local) e onde o interesse público é
mínimo. Depois, há dois meses de pânico, descoordenação, falta de
profissionalismo e muita abnegação, que culmina numa dupla tragédia: a tragédia
dos incêndios, em si, a que se junta a tragédia dos bombeiros que morrem,
muitas vezes fruto de acidentes de viação. Conduzir de forma profissional não é
a mesma coisa que conduzir o nosso carro em circunstâncias normais. A
esmagadora maioria dos bombeiros nunca teve aulas específicas de condução em
alta velocidade e/ou em condições extremas de visibilidade, estradas de terra
e, sobretudo, em condições de peso excessivo, como acontece num auto-tanque.
Mas este exemplo do que se passa na estrada é apenas um exemplo que serve para
ilustrar uma vez mais esta realidade: combatemos o nosso principal flagelo com
amadorismo sustentado em corporações que mais não são do que extensões político-partidárias
ou sociais e paroquiais, obedecendo a lógicas que muito pouco têm a ver com o
interesse público.
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