Que o palhacismo tinha invadido a comunicação social
portuguesa já sabia. Mas hoje o dia está a ser demais. Não bastou ao Estado
quase falido de Portugal ter decidido comemorar o 10 de Junho a 9… e 10 de
Junho, com o Presidente da República a apelar a que se varressem bem as ruas de
Lisboa, como os jornalistas decidiram dar um contributo forte a que seja
necessário e até urgente um novo pedido de ajuda externa. Desta vez já não de
dinheiro, mas um pedido de ajuda psiquiátrica.
Na TSF ouvi logo pela manhã uma reportagem sobre um alemão
que vive e trabalha na Alemanha e… torce pela Alemanha no jogo de mais logo.
Dificilmente encontraria uma maior negação da notícia do que esta longa
reportagem que era justificada pelo título de que “alemães que trabalham em
empresas portuguesas torcem pela Alemanha”. O alemão longamente entrevistado
nessa reportagem trabalha num hotel em Berlim que, por acaso, é de um
português. Sem comentários! Eu penso que notícia seria um português que em
Lisboa trabalhasse para a BMW e torcesse pela Alemanha e não por Portugal.
Enfim. E se a TSF mostra nesta reportagem que no melhor pano
cai a nódoa, a RTP, que nos tem dado bons exemplos de serviço público, entrou
esta manhã numa histeria esquizofrénica moderada pelo seu diretor – meu homónimo
– que resolveu gastar parte dos 300 milhões de euros que o Relvas lhe deu para
pagar dívidas em Janeiro, em reportagens um pouco por todo o Mundo.
Em Inglaterra, a RTP tinha duas equipas de reportagem: uma
anda atrás da tocha olímpica. Algo com particular interesse público. Mas a
questão nem é essa. É que os dois repórteres (câmara incluído) terminaram uma
reportagem sobre o assunto, passada ao meio-dia, mostrando-se a eles próprios a
tomar chá, supostamente às 5 da tarde! Ainda em Londres, outra equipa de
reportagem da RTP dedicava-se áquilo que de maior interesse público existe no
jornalismo português: perguntar aos emigrantes onde vão ver o jogo de logo à
noite e, claro, quem querem que ganhe! Não se vá dar o caso de trabalharem num
hotel propriedade de um alemão… digo eu!
Pelo meio, viu-se uma entrevista impossível de um jornalista
português que não fala ucraniano a um miúdo ucraniano que não fala português.
Com ajuda de um tradutor, percebeu-se que o miúdo era apenas e só isso: um miúdo
ucraniano que por ali andava e tinha uma camisola do Messi vestida. Conluia o
jornalista que não gostava do Ronaldo, ripostava o rapaz que sim e que podia
gostar de Messi e também do Ronaldo e ter hoje vestido, por acaso, aquela
camisola. Este interesse público custou muitos minutos de televisão na RTP1 e
não sei quantos euros (muitos) de aluguer de um satélite.
Podia continuar a descrever as mais variadas situações de
puro palhacismo, histeria, idiotices e absolutas faltas de senso e – sempre –
de notícia que não apenas a RTP mas a generalidade dos canais de TV hoje
exerciam com grande vontade em antena. Mas termino apenas com a de uma
reportagem feita (no meio de todo este périplo Mundial), em Viana do Castelo.
Tratava-se de entrevistar um bailarino considerado (por quem?) o 17º melhor do
Mundo. A entrevista termina e, no final, o pivot do diretor de informação da
RTP – meu homónimo – lá remata: “o 17º melhor bailarino do Mundo é português,
no futebol, temos o primeiro, ou um dos primeiros”, não fosse a camisola do
rapaz ucraniano contrariá-lo!
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