terça-feira, 21 de agosto de 2012

Da tourada à porrada

A esquerda anda sempre às costas com chavões como “tolerância”, “fraternidade”, “diversidade”, “democracia” e “direito à diferença”. Já nem interessa recordar o que a História nos deixou sobre o assunto. Nem o que o presente ainda nos ensina de paragens mais ou menos distantes, como a América do Sul ou o oriente. Há sempre uma forma da esquerda que por cá anda afirmar que a de cá não seria bem igual a essas esquerdas, ditas “democráticas” que ainda governam de forma mais ou menos ditatoriais algumas potências regionais e até mundiais. A esquerda de cá, a que gosta de caviar e a outra mais tradicional, seria diferente, dizem. Mas não é diferente. A única diferença é, de facto, nunca ter chegado ao poder. Vem isto a propósito da tourada em Viana do Castelo. Eu, que nunca vi uma tourada, que não quero ver uma tourada e que não gosto que maltratem animais, considero inaceitável que gente dita “tolerante”, “fraterna”, amiga da diversidade e do direito à diferença tenha ameaçado fisicamente pessoas que, com direito legal, legítimo e democrático, assistiam a uma tourada. Não fosse costume ser assim (foi assim com o aborto e é sempre assim quando estão em causa as ditas “fraturantes”) e quase nos esqueceríamos que os militantes de partidos como o BE ou o PCP nem sequer têm o direito mais elementar das democracias: censurar, escolher, criticar e – ora bem – votar! A sociedade de consumo, o capitalismo, o liberalismo e, pois, o neoliberalismo (seja lá o que isso for), podem ter muitos defeitos e até serem conjunturalmente alvos fáceis, mas pelo menos não obrigam uns a pensar pela cabeça dos outros perante a ameaça de porrada.

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