Propositadamente coibi-me de tecer comentários à ocultação de dívida  que, ao que parece, a Madeira andou a fazer durante os últimos anos. Não  o fiz, porque se o fizesse antes das eleições isso poderia ser lido  como um branqueamento de um comportamento que condeno e acho, tal e qual  o Ministro das Finanças, inaceitável. Contudo, a diabolização que se  fez de Alberto João Jardim, fazendo sentido, carece de um equilíbrio que  não houve. Dois pontos: o primeiro é se Alberto João Jardim ocultou  sozinho a contração de mais de mil milhões de euros de dívida.  Evidentemente, isso não poderá ter acontecido. Com ele, não apenas  responsáveis políticos mas também técnicos foram coniventes se não  impulsionadores. E também a regulação e os procedimentos orçamentais. Se  virmos bem, Tribunal de Contas e o Governo PS foram se não  corresponsáveis pelo menos negligentes na forma como acompanharam as  contas da Madeira. E o Parlamento foi omisso, ao não legislar de forma  competente para que fossem criados mecanismos e obrigações de report que  não existiam legalmente.
O outro ponto que me parece importante –  talvez mais importante – tem a ver com uma frase de Pedro Passos Coelho  na passada sexta-feira no Parlamento. Disse o Primeiro-Ministro sobre a  execução orçamental do primeiro semestre qualquer coisa como: “se é  condenável aquilo que se passou na Madeira, temos que considerar  igualmente grave o que se passou no Continente”. O coro de protestos que  vinha da bancada socialista, procurava mostrar as diferenças, por não  ter havido formal e tecnicamente, uma ocultação como a da Madeira mas  apenas, o que chamam, “um desvio”.
A reflexão que deixo é se isso é  importante. Ou seja, não terão andando sucessivos Governos (mas em  especial o de Sócrates) em permanente ocultação de dívida? Se não  formalmente e tão “técnica” como a da Madeira, a ocultação da dívida e  da real situação das contas do País por parte dos Governos de Sócrates  foi absolutamente evidente. Algum português tinha a noção de que em seis  anos, Portugal estava a passar de um endividamento externo de 80 mil  milhões de euros (depois de centenas de anos de contração de dívida)  para 170 mil milhões? Houve um único português comum que se tenha  apercebido da duplicação da nossa dívida externa e das consequências  absolutamente desastrosas que isso iria provocar no nosso nível de vida?  Quantos portugueses tinham consciência que os “Magalhães” de Sócrates,  as obras nas escolas, as auto-estradas paralelas umas às outras, os  estudos para a construção de aeroportos que nunca se farão, as obras que  chegaram a ser feitas para TGV’s que não podíamos ter, os programas de  “formação profissional” sumptuosos (como os mil milhões de euros que  Sócrates num dia deu há indústria automóvel) sem qualquer efeito  reprodutivo ou prático, etc, etc, etc… iriam obrigar a que hoje os  funcionários públicos tivessem que recuar 30 anos em regalias e  rendimento?
Quantos portugueses tiveram consciência que o  “investimento público, como motor da economia” que Sócrates anunciava  era feito às custas da mais absoluta irresponsabilidade na contração  permanente de dívida externa, até ao limite do absurdo, como chegou a  ser do próprio fundo da segurança social portuguesa comprar dívida  externa portuguesa ou de obrigar os bancos nacionais a ir aos mercados  comprar os títulos do tesouro que mais ninguém queria?
A questão  da ocultação da dívida tem sido, portanto, comum a todos os Governos,  mas em especial ao de Sócrates, uma vez que os anteriores parecem ter  sido, apesar de tudo, mais razoáveis nesse recurso do que o do  engenheiro. A sua política de curto prazo e de investimento  irresponsável, consistia numa analogia a uma economia familiar, em  levantar em cash-advance todo o plafond dos cartões de crédito, para  pagar obras de arte que colocava nas paredes, dizendo-nos que isso iria  fazer com que o rendimento bruto familiar iria ser suficiente para pagar  a dívida, abater os cartões e ainda viver melhor do que todos os  vizinhos.
E claro que, tal como na Madeira, a culpa não tem apenas  um pai. Ao lado da irresponsabilidade de Sócrates teremos que somar a  do Tribunal de Contas, a do Banco de Portugal, a dos empresários que  ajudaram Sócrates a fazer o cach-advance, a da Assembleia da República  que não legislou, a do Presente da República que não foi o garante do  regular funcionamento das Instituições e a da cambada de co-autores que  estiveram com Sócrates no Governo, em especial, o co-autor Teixeira dos  Santos.
Há tantas Leis que têm mudado e tantos direitos adquiridos  a morrer todos os dias às mãos de um Governo que parece querer ser  verdadeiro, que apenas não entendo como é possível que o único direito  adquirido que não pode ser alterado, é o de Sócrates se pirar para Paris  e não ser possível sentá-lo no banco dos réus e julga-lo pelo que fez  ao País e pela forma como o escondeu dívida até ao limite do impossível.
Se  acredito que Passos Coelho vai salvar o país? Duvido que seja possível.  Mas sinceramente, gosto de ouvir a verdade, pela primeira vez em mais  de 35 anos de democracia.

 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário