Caros amigos. Em Setembro de 2009, na antevéspera das eleições legislativas, enviei um e-mail aos meus amigos e familiares. Pedia-lhes que votassem no PSD. Não por qualquer razão de filiação ou “clubite”, mas porque essa seria a única forma de evitar que José Sócrates voltasse a ganhar as eleições. Chamei a atenção para o facto de Manuela Ferreira Leite não ser uma simpatia, mas estar a falar a verdade. Baseando-me nos escritos de Medina Carreira e naquilo que tinha ouvido a mais dois ou três economistas (alguns da área socialista) vaticinava que a cultura despesista e irresponsável de Sócrates poderia colocar em causa o futuro dos nossos filhos. Nesse e-mail falei de endividamento, TGV, Auto-Estradas e Aeroportos e falei de défice. Alguns dos meus amigos e familiares ainda guardam esse e-mail outros nem se lembram. A minha razão, ano e meio depois, não me traz felicidade. Pelo contrário. Eu não adivinhei nem fui mais esperto do que ninguém. A minoria que então votou PSD e dessa forma não escolheu Sócrates não adivinhou a desgraça que hoje nos está a acontecer. Simplesmente, essa minoria tinha razão. Mas sabem o que é mais dramático? É que quem ganhou as eleições, também não ganhou por vontade da maioria dos portugueses. Apenas dois milhões votaram em Sócrates nessas eleições. Os outros portugueses, os outros mais de oito milhões de portugueses, não queriam Sócrates no poder. Mas perderam. Oito milhões que não queriam deliberadamente Sócrates foram vencidos por dois milhões que não viram ou não quiseram ver a realidade. Desses oito milhões, alguns (poucos) votaram no PSD, outros votaram em pequenos partidos como o CDS, uns tantos votaram em branco, mais alguns nulo e outros ainda em partidos ainda mais pequenos. Mas houve ainda uma grande maioria de quatro milhões que não queria Sócrates e ajudou a elege-lo. Foram os que não votaram. Oito milhões de insatisfeitos (entre os quais quatro milhões de desiludidos com a política a ponto de não votarem) foram derrotados por apenas dois milhões. Um quinto dos portugueses decidiu que Sócrates nos governaria por mais ano e meio, até cair de podre, com o país falido. Não sei quantos dos meus amigos e familiares convenci. Um número insuficiente, certamente. Não sei quantos dos que não votaram, optaram por votar útil no PSD. Mas sei que quatro deles não puderam votar: os meus quatro filhos menores e serão eles, por ventura, os que mais vão sofrer as consequências da brutal dívida contraída entretanto por Sócrates, em nome do populismo e da desgovernação. Sexta-feira, eu vou voltar a enviar um e-mail na antevéspera de umas eleições. O meu e-mail deste ano não vai ser, contudo, exatamente igual ao do ano passado. Desta vez, além do “copy-paste” de 2009, acrescentarei um pormenor: se nessa altura uma parte dos que votaram CDS (contra Sócrates) tivesse concentrado votos no PSD, votando útil, hoje o país não estaria na bancarrota e os meus quatro filhos continuariam a ter abono de família e um futuro um pouco menos preocupante. Sim, o Primeiro-Ministro não usaria fatos de 2.000 euros, usaria um saia-casaco a cheirar a naftalina, mas eu não me envergonharia perante os meus filhos do país que lhes estou a deixar
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