Há cinco anos fui votar nas presidenciais. Nos 20 anos anteriores, votei sempre na Freguesia de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Sempre com a mesma morada. Trata-se de uma das mais populosas freguesias urbanas de uma das maiores cidades do país. Dessa, como de outras vezes, tive enorme dificuldade em encontrar a minha assembleia de voto. Calculo que em 15 ou 16 actos eleitorais, sem nunca mudar de morada, tenha votado em 13 ou 14 lugares diferentes, de uma ponta à outra da freguesia. Dessa vez, a minha assembleia de voto estava localizada num edifício particular, pertencente a umas caves de Vinho do Porto, que mais pareciam um barracão em ruínas, velho e cheio de teias de aranha. Chegar ao local tornou-se num pesadelo, uma vez que a zona é de ruas estreitas e limitadas quanto à circulação e trata-se da zona mais turística da cidade. Num domingo normal de sol, chegar ao Cais de Gaia pode demorar 40 minutos e o estacionamento é impossível. Com assembleias de voto pelo meio… piora muito.
Escrevi então à CNE, reclamando e chamando a atenção para a constante e labiríntica dificuldade que estava a ser criada ao eleitor em Vila Nova de Gaia, onde os níveis de abstenção, não estranhamente, são muito elevados. A resposta da CNE foi que não era nada com eles. Não cabe à CNE escolher os locais de voto. À resposta lacónica, respondi ao e-mail com um: “que se lixe, portanto…”, não recebi mais qualquer comentário daquela entidade.
Escrevi então ao Professor Cavaco Silva, então acabado de ser eleito, explicando-lhe as minhas dificuldades para exercer, em Vila Nova de Gaia, o meu direito e dever cívico. Eu, que sempre fui eleitor de Cavaco, sempre que este se tinha apresentado a eleições. Nunca me respondeu ou sequer acusou a recepção da minha carta.
Na eleição seguinte, lá fui de novo votar, de novo em nova localidade, nova mesa de voto, novas dificuldades em encontrar o local certo. Apresentei reclamação ao presidente da Assembleia de Voto. Mas no acto seguinte… a minha mesa já era noutro ponto da freguesia.
Nestas eleições não votei. Se a CNE não tem nada a ver com as dificuldades de um cidadão em encontrar a sua mesa de voto, se a Assembleia de Voto se está a borrifar, se o Presidente da República de quem era confessadamente eleitor não quer saber, quem sou eu para me preocupar com esta gente e, como o meu voto, alimentar o grosso cheque de subvenções estatais que os políticos recebem sempre que neles votamos?
Se tenho pena? Tenho! Se tenho vergonha de ser português? Também!
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