sábado, 21 de agosto de 2010

A falência do dinheiro, dos valores e do brio ou simplesmente um serviço público chamado CTT

Há muito pouca coisa a funcionar neste país. E uma das coisas que não funciona é a cabeça das pessoas que estão atrás dos balcões ou à frente das grandes empresas. O desleixo, a falta de brio e de profissionalismo e a absoluta incompetência da maioria dos quadros e responsáveis faz com que vivamos num país anacrónico, onde se acha que temos que ter todas as melhores tecnologias que existem no Mundo, mas onde nada ou quase nada funciona.
Os Vales Postais são um método muito antigo de pagamento e recurso de muita gente que não possui cheques bancários ou métodos electrónicos de pagamentos. Há uma geração que ainda privilegia este método e muita outra gente como eu que – nunca o tenha usado para pagar – às vezes leva com ele para receber.
Os CTT funcionam como uma entidade financeira, que emite “cheques” de valores e que, inclusivamente, vende valores mobiliários, como certificados de aforro. Espera-se, por isso, que, tal e qual num banco, quando nos dirigimos ao balcão nos seja “descontado” o cheque que levamos, trocando aquele papel por notas e moedas.
Contudo, ontem, quando me dirigi aos CTT do NorteShopping, no Porto, deparei com o aviso que o meu BlackBerry registou, colocado logo à entrada na máquina que dispensa os tickets: “não temos dinheiro para pagamento de vales”.
Numa altura em que os CTT estão à beira da privatização, posso perguntar-me o que aconteceria às acções do CTT ou de um banco cotado em bolsa no dia em que um papel fosse colocado na entrada de um balcão importante dizendo: “não temos dinheiro”.
Se a mensagem é, em si, grave e preocupante no seu conteúdo técnico – “não temos dinheiro” – a sua forma não deixa de ser igualmente preocupante e de ter um significado profundo. Não é que os CTT não tenham apenas dinheiro para pagar os valores que se comprometem a pagar pelos vales que emitem, é também a ligeireza e falta de respeito com que esse facto grave e incompreensível é comunicado a quem tem o direito a esse dinheiro.
A forma da mensagem e o local onde está colocada é muito equivalente a um aviso que um caloteiro eventualmente possa colocar na sua porta dizendo “desamparem-me a loja que eu não pago”.
Claro que em Portugal vivemos anestesiados pelas incompetências mútuas e inebriados pelo laxismo, falta de brio, amadorismo e maus exemplos que vêm de cima – mesmo de cima, a começar na classe política, com especial incidência no Governo –, mas em países onde a consciência colectiva e o sentido do que é o Estado ainda existisse, alguém naquela loja pegaria numa cadeira e daria com ela na cabeça do energúmeno(a) que escreveu tal mensagem, sem explicações e sem sequer um “desculpe” ou mesmo sem se dar ao trabalho de começar a frase por letra grande e terminar com um ponto final.
Se estou a incitar á violência? Não, estou apenas farto de um país amorfo onde a falta de brio, de vontade e até de amor próprio tomou conta de quase todas as almas e onde as chefias, direcções e administrações de organizações desta importância, apenas se preocupam em como vão aldrabar a gente, carregando nos selos, nos serviços, nos preços ou nas taxas, por forma a apresentarem lucro e… no Natal, receberem mais uns milhões de prémio.

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