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quinta-feira, 6 de maio de 2010
Ricardo Rodrigues - o ético
Calha-me em sorte profissional ter a TV ligada quase todo o dia em canais de notícias. Vejo, por isso, as transmissões das comissões de inquérito da Assembleia da República. Vi, por isso, o deputado Ricardo Rodrigues, a determinada altura acompanhado pela deputada Medeiros, dar grandes exemplos de rigor ético, como foi o caso de se insurgir contra a citação ou mesmo simples referências de escutas telefónicas legais, realizadas no âmbito de processos-crime, mas que, por razões processuais, nunca foram disponibilizadas às comissões da Assembleia da República. Agora, que ficámos a saber que para Ricardo Rodrigues chega a ser legítimo roubar gravadores de reportagem a jornalistas e que o PS o apoia ainda assim, há um pormenor ainda mais grave e incompatível com a continuação em funções deste deputado. E o pormenor não é o acto inqualificável do furto, a forma como foi perpetrado e o absurdo das suas declarações. O pormenor é Ricardo Rodrigues ter usado as gravações e o próprio objecto do seu roubo para efeitos de uma providência cautelar que diz ter feito.Objecto que, potencialmente, possui matéria protegida por segredo profissional e que, eventualmente, nem lhe diz respeito. Ricardo Rodrigues, para quem a simples referência a escutas legalmente realizadas e hoje públicas é uma infâmia, acha-se no direito de usar escutas por si furtadas para tentar impedir a publicação de notícias. Alguém pergunte a José Sócrates se este conjunto de actos irreflectidos é ou não mais grave do que os “corninhos” com que despachou Pinho e se, assim sendo, mantém em Assis confiança política para continuar a liderar a bancada parlamentar do seu partido. E ainda se, assim sendo, o PS continuará a ser representado na comissão de ética pela deputada das viagens e pelo deputado dos gravadores.
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