segunda-feira, 4 de março de 2013

A mentira colossal

A nossa perceção sobre as coisas é importante. Mas é muitas vezes enganadora. Não fosse assim e dispensaríamos a matemática. E a matemática é uma ciência exata, não deixando margem a interpretação.

Ainda assim, no caso da manifestação de sábado, a perceção de quem visita um estádio de futebol ou um concerto rock, onde sabemos com precisão quantas pessoas lá estão, deveria dar-nos um indicador forte da quantidade de pessoas que ontem se possa ter manifestado, realmente, em Lisboa e no Porto. Mas à falta desse senso comum, vamos à matemática.

Todos sabemos o que é um metro quadrado. É um quadrado com mais ou menos um passo de adulto de lado. Imaginemos, pois, um quadrado com um passo de lado. Façamos agora o exercício sobre quantas pessoas, de pé, caberão nesse espaço. Facilmente concluiremos que não poderão lá estar mais do que três, muito apertadas, encostadas umas às outras. É esse o valor médio que normalmente é atribuído a uma multidão junto de um palco num espetáculo nas primeiras filas e assim se calcula a capacidade de um pavilhão, por exemplo.

Mais longe do palco, contudo, o valor médio diminui para duas pessoas por metro quadrado (mesmo assim a tocarem-se), sendo normalmente de uma pessoa por metro quadrado nas zonas mais afastadas do palco, mesmo num pavilhão completamente cheio. Assim, os organizadores de eventos consideram normalmente uma média de duas pessoas por metro quadrado.

É um facto matemático que o Terreiro do Paço tem no limite 36.100 metros quadrados, decorrentes dos 190 metros de ponta a ponta. Ou seja, o Terreiro do Paço terá uma capacidade máxima (completamente cheio) de cerca de 72 mil pessoas. Para que isso acontecesse, teria que não se ver o solo numa imagem aérea e haveria, certamente, pessoas penduradas em estátuas e outro mobiliário urbano. As entradas e saídas seriam muito complicadas e demorariam horas.

O Rossio tem cerca de seis mil metros quadrados. Ou seja, Terreiro do Paço e Rossio complemente cheios dariam um valor limite de cerca de 84 mil pessoas, sendo que se a multidão estiver em movimento, uma pessoa por metro quadrado quase torna impossível a marcha, pelo que estamos claramente a exagerar nos números.
Empolar estes resultados (se essa situação de lotação tivesse ocorrido e não ocorreu) em mais 20% e chegar aos 100 mil seria portanto um grande exagero que nenhum matemático poderia aceitar, mas compreender-se-ia face ao argumento de que uns chegavam enquanto outros partiam.

Agora imaginemos do que estamos a falar se um milhão de pessoas se manifestasse em Lisboa!!!
É bom lembrar que Lisboa tem menos do que 600 mil habitantes.

A avenida dos Aliados, no Porto, tem cerca de 23 mil metros quadrados. O que, no limite, com pessoas penduradas nas estátuas e em cima dos canteiros, admite 46 mil pessoas. Agora imaginemos que lá queremos meter dez vezes mais, sem que ninguém tivesse pisado uma flor, como hoje se pode verificar no local.
É bom lembrar que o Porto tem menos de 250 mil habitantes.

Esta é, portanto, a resposta matemática às dúvidas que foram lançadas durante um fim-de-semana em que o Terreiro do Paço ficou muito longe de estar cheio e sequer de se comparar ao que aconteceu, por exemplo, em Setembro último, quando a CGTP lançou uma greve geral.

O Terreiro do Paço já encheu por muitas vezes. Missa papal, manifestações de diversa índole, comemorações, espetáculos. Assim como a Avenida dos Aliados enche frequentemente. Não foi o caso desta última manifestação. Nem em Lisboa nem no Porto que ficaram a uma enorme distância das maiores manifestações, em concreto, das últimas.

Não tendo sido a maior, nem sendo matematicamente admissível que se possam contabilizar mais do que 150 mil pessoas em todo o país (e não 1,5 milhões como foi anunciado pela organização), as manifestações realizadas este fim-de-semana tiveram o seu significado. Não é por terem sido apenas 150 mil pessoas (quase três estádios da Luz cheios) que deixaram de exprimir o sentimento de muita gente, a sua indignação e deixam de ser um sinal para os governantes.

Mas há algo que, em nome da honestidade intelectual de um povo, não podemos ignorar. Esta gente que a organizou, tirando partido da austeridade a que o País se obrigou após o anterior Governo nos ter deixado à beira da bancarrota, esta mesma gente que se diz apolítica e que tanto insulta os políticos e os partidos, nos seus 15 minutos de fama, não resistiu a ser pior do que os que critica.

Multiplicar por dez a presença do povo numa manifestação pública apenas acontece atualmente na Coreia do Norte. Mas já tinha acontecido no Kremlin, antes da queda do regime ditatorial de esquerda. Ah! Também acontecia na Roménia de Ceausescu com os números da produção agrícola do país onde, como se sabe, se morria à fome e o líder acabou sumariamente julgado e fuzilado.

Lá, no passado, como cá, no presente, podemos por isso falar em mentira colossal, não apenas dos ingénuos organizadores desta manifestação, mas também da imberbe imprensa que comprou o disparate e, assim, quis fazer do povo português, aquilo que ele não é: uma carneirada que se deixa usar por ditaduras de esquerda que, em nome da igualdade, da fraternidade e contra o capitalismo, manipulam os inocentes.

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