SALÁRIOS REAIS DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS SUBIRAM EM PORTUGAL ENQUANTO BAIXAVAM NA ALEMANHA
Dizia a telespetadora de um fórum televisivo que não compreendia por que razão
sempre que há crises os “maus da fita” são os funcionários públicos. Ora vejamos
se assim é: entre 1985 e 1995, ou seja em apenas 10 anos, os salários dos
funcionários públicos quase duplicaram. Nesses 10 anos, nove correspondem à
governação de Cavaco Silva, que aumentou os funcionários públicos em 90%. Se
tivermos em conta os últimos 30 anos, a subida real dos salários da função pública foi de… 150%. Note-se que estamos a falar do período entre 1978 e 2009, ou
seja, já em democracia consolidada e com duas intervenções do FMI pelo meio. E,
atenção, este cálculo contém a correção monetária, referindo-se a um “aumento
real dos salários” e não nominal. Os números são dados oficiais do Banco de
Portugal e foram publicados em 2010.
Mais estranho, na década de 2000 a 2010, passada toda ela
com níveis de crescimento diminutos em Portugal, ou mesmo com recessão – e certamente
com crise – a subida dos vencimentos reais dos funcionários públicos em
Portugal foi de 17%. Nesse período, os funcionários públicos alemães (isto
podia estar numa das cartolinas de um lamentável vídeo que por aí andou) perderam
8,3% de salário real.
Só em 2009, ano de eleições e em plena crise internacional e profunda crise da dívida que nos levaria à pedida de ajuda externa, José
Sócrates subiu os vencimentos dos funcionários públicos nuns surpreendentes 5%.
Este aumento enorme de salários foi decidido apesar das
conclusões de um estudo do Banco de Portugal, então liderado então por Victor
Constâncio, que demonstrava que os funcionários públicos não apenas ganhavam
muito acima dos seus congéneres privados com funções semelhantes, como essa
diferenças vinha galopando (de +50% em 1996 para +75% em 2005). Neste estudo
não estavam contabilizadas algumas regalias sociais exclusivas dos funcionários
públicos.
Para se ter uma ideia de como se caminhava para o abismo, o
setor da saúde viu a sua dotação orçamental crescer entre 2000 e 2010 a uma
média anual de 10%, atingindo 100% de crescimento de despesa numa década, sendo
o fator salarial um dos que mais pesou.
Mas não foram apenas os salários que cresceram. O número de “beneficiários”
também tem estado em crescimento ao longo dos últimos 30 anos. Mesmo em crise.
Em Maio de 2010, Victor Constâncio (mais uma vez) desmentiu Sócrates quando
este afirmou uma redução do número de funcionários públicos. Mesmo em plena
crise, o Governo Socialista continuava a aumentar os “jobs” no Estado e a
engordar… a “porca”, como alguém lhe chamou. Havia em Portugal 700 mil
funcionários públicos diretos.
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